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Camões como paradigma

Em Morte e Vida Severina, de João Cabral de Melo Neto, a maioria dos versos está estruturada em redondilhas maiores, métrica das poesias mais populares de Camões.


Na Ilíada, de Homero, Odorico Mendes opera, mais do que uma tradução, uma verdadeira transcriação do poema, utilizando o verso decassílabo tal como Camões em  Os Lusíadas1.


JUSTIFICATIVA

Melopeia. Do prazer de cantar palavras.

A Melopeia é o termo utilizado por Aristóteles para referir-se ao poetas gregos da Antiguidade clássica, quando oralizavam suas poesias pelas ágoras e praças públicas. Suas poesias oralizadas conseguiam uma espécie de melodia, musicalidade – fruto da própria vivacidade associada à oralização -, por isso eram chamados aedos. Um dos teóricos modernos que resgatou o conceito de melopeia foi Ezra Pound. Além de nada se distanciar do sentido que a antiguidade clássica grega conferiu ao termo, a teoria de Pound é a que mais se aproxima do que sugerimos aqui como forma de encontrar uma fruição prazerosa da poesia. O teórico referencia este conceito como o ato de produzir correlações emocionais por intermédio do som e do ritmo da fala.

A proposta de utilização de dois textos com as características formaisIlíada e Morte e Vida Severinavisa privilegiar a oralização pela percepção da melopeia. É pelo canto, pela toada, pelo ritmo, pelo prazer musical que a récita de versos métricos proporciona, que almejamos conquistar o interesse do público não apenas para conhecer os conteúdos destes poemas – fundamentais! – mas principalmente assumir o gosto de narrá-los em voz alta. É tocando-os com os pulmões, com a voz, que os mitos contidos nestes poemas – é a tese de Pound – vem mostrar-se como arquétipos, como espelhos de nós mesmos. Ler estes textos não basta porque é pelos ouvidos que essa experiência se aprofunda.

Em termos antropológicos é preciso resistir a hegemonia da sensibilidade visual: da cultura do olho. E nisto a poesia deve ser alçada a um um papel de formação e resistência. Não se pode exigir que as novas gerações compreendam a poesia sem lhes oferecer a experiência da leitura de poemas e da récita. A experiência da poesia é uma experiência sobre a língua: sobre a música e as possibilidades criadoras da língua. E neste caso tratam-se de mestres no trato da língua portuguesa, mesmo em relação a Ilíada, uma vez que a versão proposta para trabalho é a de Odorico Mendes, feita em decassílabos e considerada por Haroldo de Campos uma obra patrimônio da língua portuguesa.

Homero: os mitos: Importância e contexto

Todo leitor é, quando está lendo, um leitor de si mesmo“, disse Marcel Proust (1871-1922), autor da obra-prima Em Busca do Tempo Perdido. Isso acontece quando os personagens retratados servem de inspiração e reflexão para leitores de qualquer época e lugar. E isto não tem nada a ver com erudição; é o poder da arte: uma obra da antiguidade clássica é capaz de mobilizar as experiências cotidianas do homem contemporâneo. Homero oferece-nos um fabuloso retrato da humanidade: o mito. Estimular a circulação das imagens mitológicas é abrir mais um campo de reconhecimento e reinvenção para o homem. A humanidade não é, está sendo; os personagens de Homero constituem o mais antigo espelho artístico do homem ocidental. E os Severinos de João Cabral são arquetípicos da identidade brasileira. Estes mitos/arquétipos tem muito a nos dizer. Que tem medo de ouvir?

Ilíada Morte e Vida Severina: quem tem medo de poesia?

No que diz respeito a proposta, acrescentamos que mais do que a experiência de conhecer o argumento dos épicos, seu enredo e ouvir trechos de seus momentos de pico, é indispensável instrumentalizar as pessoas no sentido de tomar as rédeas destes poemas, sua intensidade e paixão. São de fato apaixonantes e é esta paixão que o projeto objetiva tocar; uma paixão que suplante a ideia de dificuldade.

De fato não é fácil. Há quem diga impossível. Há quem diga “Homero?! o povo gosta mesmo de novela”. Pode até ser verdade; mas gosta agora, por razões históricas, tecnológicas, políticas, enfim – melhor manter este texto em banho morno -, mas certamente não é um fado, uma sina cultural. Um outro gosto pode ser cultivado. Ações hoje com vistas ao amanhã. Se nossos educadores fruírem verdadeiramente a poesia, então seus alunos poderão fruí-la também, e seus futuros filhos também. Se nada for feito, nada será feito. Mas o tempo e a história exigem de nós o desejo de apostar naquilo que é necessário mesmo que agora nos pareça impossível. É preciso fazer. É preciso dizer Não ao NÃO. Contrariar essa lógica barata do “NÃO”, que é como uma praga: a saúva no nosso processo educacional, artístico, cultural. Tese: as pessoas necessitam e querem conhecer e reviver os mitos fundadores da humanidade e do povo brasileiro. Está tudo aí, é preciso fazer, tentar, talvez vencer e então mostrar que é possível, para então passarmos sem tanto esforço a dizer sim, sim, sim; é evidente que sim!

Louri

25 de setembro de 2010

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1“Terá, sem dúvida, o condão de repor na circulação sanguínea de nossa literatura essa magna obra tradutória, que tanto dignifica nossa língua” Haroldo de Campos , no lançamento da Odisseia, traduzida por Odorico Mendes quando publicada pela EDUSP

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O teatro fácil é objetivamente burguês.

O teatro difícil é para a elites burguesas bem cultivadas.

O teatro muito difícil é o único teatro verdadeiramente democrático.

PIER PAOLO PASOLINI

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Parte 1 do documentário sobre a itinerância do projeto “Quem tem medo de poesia!?”

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Metodologia

Em cada município serão três dias de encontros com a seguinte programação:

Primeiro diaMorte e Vida Severina

Manhã – 3 horas: das 9h às 12h

– Palestra sobre autor, obra, seu contexto histórico e cultura, tema, argumento, personagens e aspectos formais;

– Récita do texto pelo proponente; fragmento de 30 minutos;

– Perguntas da plateia sobre o texto e a récita.

Tarde – 4 horas: das 14h às 18h

– Oficina de récita: compreensão de texto, métrica, melopeia, ritmo e prática de oralização.


Segundo diaIlíada

Manhã – 3 horas: das 9h às 12h

– Palestra;

– Récita de fragmento 30 minutos;

– Perguntas e conversa.

Tarde– 4 horas: das 14h às 18h

– Oficina de récita.

Terceiro dia – Sarau

– Récitas dos alunos de trechos das obras trabalhadas nas oficinas, e de poemas livremente escolhidos por eles;

– Coleta de récitas e de depoimentos para vídeo.

As bibliotecas sem leitores

Gabriel Bonis –  12 de outubro de 2011 às 13:25h – publicado em Carta Capital http://www.cartacapital.com.br/

Poucas para um Brasil de quase 200 milhões de pessoas, sem programação adequada e com horários restritos, a maioria delas vive às moscas. Fotos: Gabriel Bonis

Pela manhã durante um dia de semana, a biblioteca pública Roberto Santos no bairro do Ipiranga, em São Paulo, está praticamente deserta. Além dos funcionários, poucos visitantes aproveitam o silêncio para ler um jornal ou revista. O vazio, no entanto, não assusta, afinal os brasileiros não têm o hábito de ler. Segundo um levantamento de 2007 do Instituto Pró-Livro, a população do País lê apenas 1,3 livro por ano, enquanto nos EUA esse índice chega a 11 e na França, a sete.

Para tentar reverter esse quadro e destacar a importância da leitura, há três anos o Dia Nacional da Leitura foi oficializado em 12 de outubro, também Dia das Crianças. “Quanto mais cedo uma pessoa for colocada perto da leitura e da escrita, maior será a sua intimidade, conforto e habilidade com o código ao longo do tempo”, destaca, em conversa com o site de CartaCapital, Christine Castilho Fontelles, diretora de Educação e Cultura do Instituto Ecofuturo, uma ONG focada em projetos educacionais.

Contudo, as crianças e os adultos interessados em utilizar uma das 4.763 bibliotecas públicas municipais do País enfrentarão uma série de dificuldades estruturais, a começar pelo horário de funcionamento e o baixo número destas instituições. Para se ter uma ideia, somente no estado de Nova York, nos EUA, há sete mil bibliotecas.

De acordo com o 1º Censo Nacional das Bibliotecas Públicas Municipais, realizado no ano passado pela Fundação Getúlio Vargas, apenas 79% das cidades brasileiras possuíam ao menos uma biblioteca aberta em 2009, com média de 2,67 para cada 100 mil habitantes. Porém, apenas 12% delas funcionavam aos sábados, 1% aos domingos e 24% no período noturno.

“Serviços de cultura têm que abrir aos fins de semana, se não o que seria dos teatros e cinemas? Uma biblioteca pública fechada reflete a mentalidade de um projeto de virar as costas às necessidades de leitura do País”, questiona Edmir Perrotti, doutor em Ciências da Comunicação e especialista em políticas públicas em comunicação e leitura.

Ponto de vista apoiado por Fontenelles, para quem os horários das bibliotecas deveriam se adequar às necessidades da comunidade local, colaborando para a formação de novo leitores. “É desafiador criar uma cultura de leitura, para isso temos que oferecer um serviço adequado.”

Segundo a coordenadora da biblioteca pública Roberto Santos, no bairro do Ipiranga, em São Paulo, o local não tem um dia ou horário mais movimentado

No entanto, o quesito quantidade não é o único problema identificado. A inclusão também é negligenciada amplamente pelas bibliotecas públicas municipais. Apenas 9% oferecem serviços para deficientes visuais, como audiolivros ou obras em Braille, e 6% desenvolvem atividades para surdo-mudos, deficientes mentais ou físicos. Sem mencionar serviços básicos como a disponibilização de computadores com acesso à internet ao público, presente em menos de 30% das instalações. “Aqui os computadores são apenas para busca de livros no acervo”, diz Filomena Janowsky, coordenadora da biblioteca Roberto Santos. Em visita ao local, recém reformado, a reportagem de CartaCapital também não avistou materiais de leitura especiais ou elevadores.

Há 20 anos a trabalhar no local e prestes a se aposentar, Janowsky mostra animada o estabelecimento, uma das oito bibliotecas temáticas da prefeitura de São Paulo. Criadas entre 2006 e 2008, trazem também um acervo com conteúdos específicos e oferecem programação cultural sobre um determinado tema, neste caso, como a decoração repleta de claquetes, rolos de filmes e iluminação especial espalhadas pelos cômodos sugere, o Cinema.

O local oferece cursos na área, além de exibir filmes em cabines individuais e em um bem equipado auditório de 101 lugares. Até mesmo o horário de fechamento, às 17h de segunda à sexta, é burlado para a realização de oficinas durante à noite e sessões de cinema aos domingos, embora os demais serviços da biblioteca não funcionem fora do expediente – que também inclui o sábado.

Na Roberto Santos, uma das oito bibliotecas temáticas da prefeitura de São Paulo, o cinema ganha destaque

No entanto, a ação temática deve ser encarada com cuidado, explica Perrotti. “Pode ser interessante como ideia, mas é preciso analisar como as práticas e iniciativas estão se dando. Porque é possível acabar interessando o público de cinema e afastando os demais.”

Um aspecto também apontado como insatisfatório no censo da FGV, no qual a frequência média dos usuários das bibliotecas públicas municipais é de quase duas vezes por semana. Além disso, 65% dos visitantes enxergam a estrutura como uma fonte de pesquisas escolares, 26% a utilizam para pesquisas em geral e somente 8% para o lazer.

Segundo Perrotti, uma das formas de escapar desse estigma é a implementação de projetos culturais efetivos, ao invés das atuais atividades de cultura esporádicas. “Projetos são orgânicos, sistemáticos, têm planejamento, acompanhamento e avaliação, mas isso não acontece”, diz, abrindo espaço para uma crítica à programação das bibliotecas nacionais. “Elas se nomeiam um serviço cultural, mas não trabalham as dimensões simbólicas da cultura, as significâncias, o ângulo estético do conhecimento.”

A composição do acervo é outro fator capaz de atrair leitores em busca de lazer, defende Fontelles, além de aumentar a média nacional de empréstimos, hoje em baixos 296 por mês. “Porém, a cultura da leitura não se faz sozinha, depende de professores apoiando e de estratégias de promoção da biblioteca, incluindo diagnósticos na região para criar um espaço vivo. Sem isso, conquista-se apenas um grupo de usuários fixos.”

Algo que para Janowsky não chega a ser negativo, por fortalecer os laços de usuários locais com a biblioteca e seus funcionários. “Eles vêm aqui e conversam com as recepcionistas sobre suas vidas, é uma terapia. Às vezes tenho até que aumentar o número de funcionários na recepção para atender os demais usuários. Esse também é o nosso trabalho.”

A coordenadora Filomena Janowsky e a atendente Elisabeth Zanella

Elisabeth Zanella, atendente do estabelecimento há cinco anos, tem inclusive uma visitante favorita. Uma senhora de 85 anos, que todos os dias vai à biblioteca ler as notícias do dia e depois discutí-las na recepção. “A vinda aqui é só um pretexto, ela me traz até os seus exames médicos”, brinca.

Embora esse público também seja bem-vindo, Fontelles acredita que as bibliotecas devem usar todas as ferramentas disponíveis, incluindo as redes sociais, para atrair leitores efetivos. Um conselho seguido pela coordenadora da Roberto Santos, que disponibiliza em uma prateleira bem em frente à escada pricincipal para o acervo, os livros mais conhecidos, aqueles com capas mais atraentes, entre outros quesitos. Além disso, há um mural para os leitores deixarem uma resenha dos livros e ajudar na escolha dos usuários.

“Somos uma das bibliotecas que mais emprestam na cidade de São Paulo”, diz Janowsky, embora o estado seja o líder nacional na média de empréstimos, com 702 por mês.

A prateleira com os “destaques” fica em um lugar estratégico, em frente à escada principal para o acervo

No entanto, é preciso ir além da divulgação para tornar um visitante esporádico em usuário frequente. Isso, de acordo com o especialista em políticas públicas para leitura, só pode ser feito com projetos consistentes e de longo prazo. Perrotti destaca um exemplo que acompanhou em Nova York, no bairro do Queens, um dos mais problemáticos da cidade norte-americana.

“Quando uma criança nasce lá, a biblioteca recebe um aviso do hospital e já começa a se preparar para atender aquela criança”, aponta Perrotti, destacando que as instituições estão sempre se adaptando ao cenário a seu redor para fortalecer os laços com a comunidade. “Ao aumentar o fluxo de imigrantes latinos, criaram-se cursos de inglês para estrangeiros e catálogos em espanhol. O mesmo ocorreu com a chegada dos chineses, com convites de escritores desse país para debates.”

Um cenário que ainda parece distante da realidade brasileira, na qual a prefeitura de São Paulo fechou em 2008 quatro bibliotecas alegando falta de público. “Não podemos esquecer que esse movimento de preocupação com as bibliotecas é relativamente recente, prova disso é que há uma década elas estavam definhando. Nunca houve uma proatividade de se construir um planejamento de cultura da leitura”, diz Fontelles. E completa: “Na medida em que as bibliotecas existam, as pessoas vão entrar em contato com as obras da história da humanidade e com a literatura. Uma coisa, afinal, é ler sobre a história russa e outra é ler um escritor russo, ver as tensões humanas e entrar em contato com esse lado.”

Gabriel Bonis

Leia mais:

A juventude e o descontentamento
Leitura de puro prazer
Microcontos na era do Twitter
‘A política suga a felicidade’

 

 

Laranjeiras do Sul – Paraná

Realmente, aqui em Laranjeiras ninguém tem medo de poesia! Os participantes ficaram simplesmente curiosos e super envolvidos com todo esse conhecimento transmitido pelo coordenador do projeto Lourinelson. Fiquei muito feliz com o interesse que todos demonstraram pela poesia, foi fascinante…

Francielle Castilho


Simplesmente surpreendente!

Gostei do que vi e principalmente do que ouvi.
Louri, você nos encantou pelo conhecimento, pela récita, pelo dinamismo, mas principalmente pela paixão com que tratou o assunto, tornando aquilo que nos parecia impossível e “grego”, um deleite!
Parabéns pelo trabalho de disseminar um pouco de cultura pelas cidades do interior , tão carentes do sabor
gratuito da bela poesia.
Um abraço

Claudia Motta – Laranjeiras do Sul – Pr

Aratuípe – Bahia

Quedas do Iguaçu – Paraná

Olá Lori estava na sua palestra sobre poesias hoje em Quedas do Iguaçu, quero dizer-te que estou encantada com poesias, você foi responsável por despertar esse interesse e desejo de cantar poesia, neste momento estou na faculdade e não paro de tentar cantar a primeira estrofe do canto I dos Lusíadas, quero por quero quero decorar pelo menos o que você passou para nos na folha, estou na sala de informática neste momento e recitando em voz baixa para decorar já teve pessoas que estavam ao meu lado e me olharam pensando” está louca falando sozinha”, rsrs

eliane

Guaraniaçu – Paraná

E lá fomos nos participar deste projeto, que muito contribui para meu crescimento, aprendi a ler poesia e passei a entende-las melhor.

Crislaine Oliveira

Jaguaripe – BA

QUEM TEM MEDO DE POESIA?
Nós não temos mais!
Devido a esse belíssimo projeto e ao professor Lourinelson, fantástico!!!Que nos proporcionou momentos de aprendizagens e récita inesquecíveis. “Professor” Louri…rsrs, nos encantou pelo conhecimento, pela paixão em recitar, e consegui despertar em cada um de nós como é gostoso aprender POESIA!
A você Louri obrigada pelos deliciosos e doces momentos de poesia!!
Joseane Barbosa (Josy)

Trecho de Vigotsky sobre educação infantil e literatura.

“Leão Tolstoy, com o seu profundo conhecimento da natureza da palavra e do significado, compreende mais claramente que a maior parte dos educadores que é impossível transmitir pura e simplesmente um conceito de professor para aluno. Ele narra as suas tentativas para ensinar linguagem literária às crianças do campo, começando por “traduzir” o seu vocabulário na linguagem dos contos populares e traduzindo depois a linguagem dos contos em linguagem literária. Tolstoy descobriu que não se pode ensinar a linguagem literária às crianças através de explicações artificiais, por memorização compulsiva e repetição como se ensina uma língua estrangeira. Escreve ele:

Temos que admitir que tentamos por diversas vezes … fazer isto e que sempre nos defrontamos com uma insuperável aversão por parte das crianças, fato que mostra que seguíamos um caminho errado. Estas experiências transmitiram-me a certeza de que é perfeitamente impossível explicar o significado de uma palavra … Quando tentamos explicar qualquer palavra, a palavra “impressão”, por exemplo, substituímo-la por outra palavra igualmente incompreensível, ou toda uma série de palavras cuja conexão interna é tão incompreensível como a própria palavra.

Aquilo de que uma criança necessita, diz Tolstoy, é de uma possibilidade de adquirir novos conceitos e palavras a partir do contexto lingüístico geral.

Quando houve ou lê uma palavra desconhecida, numa frase quanto ao resto compreensível, e depois a lê noutra frase, começa a fazer uma vaga idéia do novo conceito; mais tarde ou mais cedo sentirá … necessidade de usar a palavra — e uma vez que a use, passa a assenhorear-se da palavra e do conceito. Mas estou convencido de que é impossível transmitir deliberadamente novos conceitos ao aluno … tão impossível e fútil como ensinar uma criança a andar apenas pelas leis do equilíbrio …(43, p,. 143).”

Pensamento e Linguagem (link para e-book)
Lev Semenovich Vygotsky (1896-1934)


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Marina, 9 anos, entoou com grandiloquência os versos decassílabos de Camões e de Odorico Mendes/Homero. De quebra rendeu-me uma das mais contundentes reflexões sobre a arte e educação entre tantas que tenho tido a oportunidade e experimentar por minha itinerância.

Obrigado Marina.

Louri

“Olá td bem? aquele dia na sua palestra foi um marco na minha vida e da minha filha,( Marina) Quedas do Iguaçu…um abraço.”

leonilda de abreu hack

Ninguém tem medo de poesia!

Ontem,  30 de março – iniciamos a execução do projeto.  Falamos sobre a Epopéia, os rapsodos e aedos, a récita, poesia e a melopeia.  Lemos e recitamos Os Lusíadas e Morte e Vida Severiana. O interesse dos participantes correspondeu àquilo que sabíamos/apostávamos: as pessoas querem conhecer os clássicos, basta conduzi-las nos primeiros passos; a beleza rítmica, as imagens e ideias condensadas nos versos causam  espanto e curiosidade e irremediavelmente levam ao desejo de mais destrincha-los, dominá-los e  recitá-los.

Pois bem, mal começamos e já podemos afirmar: ninguém tem medo de poesia.

Muito pelo contrário!

À propósito:

“Sem a curiosidade que me move, que me inquieta, que me insere na busca, não aprendo nem ensino”.
( Paulo Freire)

Biblioteca de Laranjeiras do Sul

Prévia na Escola Gildo Aloísio Shuck

Aquecendo os tamborins: Oficialmente as atividades do projeto começam hoje às 13:30h na Biblioteca de Laranjeiras do Sul, Oeste do Paraná. Mas como a manhã nasceu ensolarada solicitei a diretora do Departamento de Cultura, Francielle, que articulasse um blitz em alguma escola. Francielle é articuladíssima e em 40 minutos juntamos as duas turmas do magistério da Escola Gildo Aloísio Shuck.

Foi ótimo! Ao final, muitos alunos solicitaram participar do “Quem Tem Medo de Poesia!?”. A biblioteca não comporta muita gente, mas apertando, apertando acho que dá pra todo mundo.

A dica então para quem não está inscrito é: vá! dá-se um jeito.

 

Que se espalhe e se cante no universo, se tão sublime preço cabe em verso!

E lá vamos nós! depois da fase de pesquisa e produção vamos às praças. As três primeiras cidades são do Paraná: Laranjeiras dos Sul (dias 30, 31, 1º de abril), Guaraniaçu (dias 4, 5 e 6) e Quedas do Iguaçu (dias 7, 8 e 9).

A programação: récitas nas escolas pelas manhãs, palestras e oficinas para professores e interessados às tarde e noites e, para terminar, um sarau festivo com Camões, Homero, João Cabral e Fernando Pessoa.

As cidades:

Laranjeiras do Sul

Guaraniaçu

Foto de Marcos Pazinato

Quedas do Iguaçu

Foto de Cristiane Campos